O que você acha?

Não é segredo para ninguém da área, ainda para os que estão ma graduação, que a imagem do profissional de Relações Públicas nem sempre é a melhor possível. E o velho ditado popular que envolve casas de ferreiros e espetos de paus parece vestir bem essa situação já que, depois de mais de vinte anos de redemocratização, ainda vemos vestígios de uma má fama adquirida nos negros tempos de ditadura assombrando uma classe que ganha a vida trabalhando a imagem dos outros.

Pensando nisso, resolvi postar um texto onde os RPs são citados. Pare um minutinho e leia, daqui a pouco eu volto:

Pomba!
Luiz Fernando Veríssimo
"Uma vez pedi um “piccione arrosto” num restaurante em Assisi, na Itália, e imaginei que aquele pombo podia muito bem ser um descendente direto dos pássaros que conversavam com São Francisco. Mastiguei-o com mais gosto. Não sei o que as pombas diziam ao santo homem mas estou certo que o enganavam. Pombas são dissimuladas e de péssimo caráter. Profissionais de relações públicas devem venerar as pombas, pois são o maior exemplo conhecido do triunfo de RP sobre a realidade. São animais lamentáveis, portadores de doenças e poluidores, mas construíram uma reputação de beleza e virtude que resiste aos séculos. Desde os tempos bíblicos. Foi uma pomba lançada por Noé da arca que trouxe o ramo de oliveira, provando que o dilúvio chegava ao fim. Quando Noé a lançou de novo para guiar a arca para a terra seca ela, calhordamente, sumiu, mas essa parte da história é pouco lembrada pelos seus fãs. Fartamente paparicadas e poupadas - a não ser por quem, sensatamente, as pega, cozinha e come com polenta - as pombas transformaram-se em pragas urbanas. Em lugares de muito turista elas andam no meio da multidão com uma empáfia de sultão, e acrescentam a arrogância a todas as suas outras antipatias - sem falar no cocô que espalham por toda parte, inclusive nossa cabeça, em escala industrial. E no entanto são símbolos de pureza, símbolos de inocência e paz. Tudo RP.
Mas por que foi que eu comecei a falar em pombas? Queria falar sobre outro assunto alado, os problemas da nossa aviação civil. Essa questão que há meses está no ar, quando não está presa no aeroporto. Dizem que a primeira condição para saborear uma lingüiça é não saber como ela é feita. Se soubéssemos, nunca a comeríamos. De uns tempos para cá descobrimos como funciona o controle dos vôos no espaço aéreo brasileiro - e foi como nos atirarem de ponta-cabeça num caldeirão de recheio de embutidos repleto de unhas e cabelo de rato. Eu preferia a ignorância. A analogia só não é completa porque você pode parar de comer lingüiça, ou cuidar para só comer lingüiça feita na sua frente, com ingredientes nobres e, de preferência, por alguém da família, mas não pode parar de voar ou escolher como vai ser controlado o seu vôo. E pensar que todo esse tempo estivemos voando sobre esse abismo de intrigas, ressentimentos, precariedade, incompetência, unhas e cabelo de rato sem saber de nada. O fato de não ter havido mais acidentes aéreos no Brasil só pode ser atribuído a boa vontade de Deus ou ao lóbi do Santos Dumont.
Há culpa suficiente nessa vergonha toda para repartir entre governo, Aeronáutica e todos que a esconderam ou ignoraram. Não vão se recuperar tão cedo. A não ser que contratem o RP das pombas."


Então me diz, você ficou ofendido? Acho que foi chamado de mentiroso? De maquiador de verdades inconvenientes? Pois é, muita gente ficou. Depois que essa crônica foi publicada no jornal O Globo do dia 08 de abril de 2007, as cartas de RPs enfurecidos abundaram mais que as pombas e autor acabou tendo que se retratar:

Há dias escrevi que o relações-públicas das pombas, bichos lamentáveis que, no entanto, têm uma imagem invejável, devia ser extraordinário. Recebi vários protestos, não de pombas, mas de relações-públicas. A idéia era citar as pombas como o que, em publicidade, se chama de um “case”, no caso de sucesso na construção de imagens, portanto admirável. Entenderam que eu estava atribuindo aos RPs os defeitos das pombas. Era uma fantasia hipotética, gente. As pombas não têm RP, e duvido que algum RP aceitaria a conta das pombas.A intenção não era ofender ninguém além das pombas. Relações públicas é uma profissão séria e cada vez mais necessária. Acho que eu mesmo estou precisando”.
(publicada em sua coluna no Jornal Zero Hora no dia 12/04/2007)

Prefiro não emitir minha opinião, só o que eu digo é que eu tenho senso de humor. Mas acho que vale lembrar que a profissão de Relações Públicas já sofre com inúmeros preconceitos, costuma ser a patinha feia dos cursos de comunicação social e é um dos campos mais desconhecidos pelo senso comum (se você não pensa RP como festinhas)

Talvez os RPs, a exemplo do Luiz Fernando Veríssimo, também esteja precisando de um RP...

4 comentários:

Gustavo Almeida disse...

Parabéns pelo post Patrícia! Esse texto é muito legal, eu gostei muito dele.

Buono disse...

Tec Proc RP né? haha te peguei gata!

Taís Maciel disse...

Muito bom, Patrícia!!
Casa de ferreiro espeto é de pau...

Luiza disse...

Tb li esse texto em Tec Proc RP no semestre passado! Mas é sempre bom ler de novo! ele é genial! haha
adoro verissimo! e parabens pelo post, pat! adorei!

 
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