Pensando em Públicos por uma perspectiva Matrix

O estudo dos públicos é uma das partes primordiais para um planejamento. Está em todos os manuais de comunicação. Por essas e outras que os supermercados anunciam na novela da noite e os brinquedos na parte da manhã, entre um desenho animado e outro. Assim, com esse mapeamento (termo utilizado na terminologia da área) as ações são coordenadas e os resultados aparecem. Prático e normal.


O que eu me pergunto (e não, nenhum manual de Comunicação me conduziu a pensar sobre isso) é mesmo nas apropriações que os sujeitos consumidores vão fazer dessa informação que recebem. É até onde um mapa – uma cartografia exata – conseguirá medir a relação entre o consumidor e o produto.


Os media estão passando por uma fase de transição. Todo mundo sabe disso, o que não impede que mesmos pesos e mesmas medidas pré-imternet, pré-tvdigital seguem sendo adotados. Talvez não pela esfera produtora, mas por aqueles que estão olhando para ela (de forma meio relapsa, talvez).


Para tentar tornar o que estou querendo dizer mais palpável, usarei como exemplo a indústria do entretenimento, familiar a cada um de nós que ler este texto.


Para começar, a franquia Matrix. Podemos observá-la por diversos pontos de vista – se estivermos pensando apenas no público – e para cada um deles, encontraremos uma questão diferente. Matrix surgiu com uma proposta nova. Totalmente diferente de tudo o que já tinha sido pensado em termos estéticos e desconstruindo até a própria realidade em um enredo repleto de referências colhidas cuidadosamente nas mais diversas fontes.


Além disso, a experiência de assistir Matrix não deveria se restringir às salas de cinema. Entre um filme e outro, os fãs deveriam se abastecer com uma série de games, de HQs e de curtas de animação que pipocavam na internet. Para as seqüência do primeiro episódio da franquia, esse preparo para Matrix Reload e Matrix Revolution foi suposta na esfera da produção, muitas das respostas que o roteiro não deu, foram dadas por essas outras mídias, em outras interações desejadas.


Aí eu pergunto: você sabia disso? E a sua resposta vai nos ajudar a dar seqüência ao raciocínio: Matrix é um projeto que deu certo?


Se estivermos falando de dinheiro, a resposta é sim. Matrix rendeu horrores tanto em bilheteria quanto no comércio dos produtos licenciados que iam desde esses requisitos para compreender (por imersão, eu diria) a história, até camisetas, bonés, chaveiros e bonecos. Faturou muito, foi capa de incontáveis publicações que tratava de incontáveis assuntos, e não só de cinema, virou tese de mestrado, doutorado em vários campos distintos do saber, entrou para a história. Um sucesso!


Já a crítica não foi tão generosa. Sim, Matrix é um deleite para os olhos e uma escola para o universo dos efeitos especiais. Mas a crítica não estava preparada ainda para fazer as viagens que os produtores do filme propuseram e se detiveram a analisar o que os competia. Com isso, o roteiro foi muito criticado e a franquia, do ponto de vista cinematográfico acaba saindo com saldo negativo: entra para a história do cinema pelo seu pioneirismo, mas sem alcançar a célebre prateleira dos “bons filmes”.


E quanto ao “público”? (não, não voltamos ao cerne deste posto, na verdade, nunca saímos dele) o que ele achou de Matrix? A palavra indiferença seria a mais inadequada. Um público indiferente não teria movimentado essa quantidade toda de dinheiro. Mas daí a dizer quem gostou, quem não gostou, eu deixo para quem tem mais aptidão com números e aprecia mapeamentos. O que eu queria mostrar é como isso variou de acordo com a apropriação que cada sujeito fez de um mesmo filme: alguns dos que seguiram as pistas espalhadas nos HQs, games e outras mídias, se divertiram e se sentiram expostos a uma transcendental forma de entretenimento tridimensional, uma experiência sensível, duradoura e interativa. Para alguns que transcenderam o transcendental e fizeram de Matrix quase uma religião, as continuações não passaram de decepção: mergulhados naquela atmosfera foram capazes de formular desfechos muito mais complexos do que aqueles que de fato apareceram nas telas das continuações, deixando no ar um sentimento de frustração. E outros, ainda, saíram do cinema com cara de paisagem, tomaram um chop e voltaram para casa.


Isso pode acontecer com qualquer coisa. O interessante de pensar essa fragilidade de simplesmente se mapear um público sob a perspectiva de Matrix é o fato de ele ter, no final das contas, sido produzido para um público ultra segmentado: pessoas que gostam do filme, que gostam de games, que se interessam por jogos on line e que estão dispostas a dar continuidade à experiência do cinema em outras medias, etc. Ou seja, a maneira como cada um se apropria daquela história vai determinar que tipo de público ela é de uma forma muito mais detalhada do que sua faixa etária, sua religião ou sua etnia.


Os públicos vão se segmentar dentro de segmentos já pequenos. E essas fatias, cada vez mais finas, não serão mais contempladas por perguntas como: onde ele está? Do que ele precisa? E os manuais de comunicação terão seu lugar, porque são boas ferramentas sistematizadoras, mas (de novo...) se eles não forem problematizados e pensados dentro de uma perspectiva mais sociologia, será como tentar entender a física de Einstein amparado por paradigmas aristotélicos.

2 comentários:

Gustavo Almeida disse...

Eu só concordo que Matrix é uma viagem total...

myblog disse...

Eu acho que em muitas ficçoes, ha uma verdade. No caso matrix, serve como uma critica com a relidade na qual vivemos.

 
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