Saudades Justin


Por Pedro Camelo

Faz quase quinze anos que o mercado norte-americano de vendas de álbuns teve seu recorde, mantido até hoje, em relação ao número de vendas de um disco em uma só semana. Era março de 2000, e a indústria de CDs estadunidense estremeceu com o lançamento do álbum “No Strings Attached”, da boyband ’N Sync, em uma época em que estavam começando a nascer serviços de download não pago de músicas, como o Napster, mas em que a compra de álbuns físicos ainda era predominante. Os números de venda da primeira semana da banda encabeçada por Justin Timberlake são impressionantes até hoje, contabilizando 2.415.859 cópias. Para se ter ideia, o álbum mais vendido no Brasil na história, Músicas para Louvar o Senhor, do padre superstar Marcelo Rossi, vendeu um pouco mais 3 milhões e 300 mil cópias desde seu lançamento em 1998, menos do dobro do que a boyband americana conseguiu ter em apenas uma semana. Mesmo se tratando de dois contextos diferentes, fica bem clara a margem assustadora de lucro que gravar um disco de sucesso dava no começo dos anos 2000 nos EUA.


 Hoje, infelizmente para os envolvidos na indústria fonográfica, ramo em que se inserem empresas e pessoas que gravam e distribuem músicas, o cenário está bem diferente. Não que a música tenha deixado de ser consumida aos baldes: o vídeo mais assistido da história do YouTube ainda é um videoclipe, o divertido Gangnam Style lançado no começo da década, e serviços de streaming e de download de torrents são mais presentes do que nunca. O setor de vendas de discos, porém, anda em seu período de vacas magras: até um mês atrás, nenhum disco lançado em 2014 tinha conseguido atingir a venda de 1 milhão de discos nos EUA e o consequente título de álbum de platina, e hoje é frequente que o primeiro álbum da parada semanal americana não atinja nem as cem mil vendas. 

O que ocasionou tão grande reviravolta nas vendas de álbuns? A adoção do ato de fazer download de músicas por meios ilícitos por parte muito considerável do público que seria consumidor parece óbvia, mas não é a única justificativa. O fato de que as pessoas em grande parte vêm parado de ouvir álbuns para escutar a músicas baixadas individualmente, mesmo que por serviços legais como o iTunes, também é uma grande razão para o atual fracasso financeiro da indústria fonográfica, isso sem contar serviços como o YouTube e o Spotify, que permitem ouvir músicas ilimitadamente e grátis. Porém, nem tudo parece perdido nesse mercado que, mesmo em fase de retração, é tão importante na vida de número enorme de pessoas que consomem música, mesmo não pagando por ela.


Um exemplo extremamente atual é o disco que quebrou a regra de vendas miúdas de estréia em 2014. O álbum “1989”, lançado no final do mês passado, da cantora norte-americana Taylor Swift, superou em muito as expectativas de mercado ao vender, em apenas uma semana, mais do que qualquer outro álbum de 2014 tinha vendido no ano inteiro nos Estados Unidos, e entrando no top 10 dos álbuns de maior saída na primeira semana do país. Com quase 1 milhão e 300 mil cópias vendidas em sete dias, Taylor mostrou que, apesar do momento ruim, ainda é possível sobreviver na indústria, mesmo sendo um caso de exceção extremo. Apontar uma razão especifica para tal sucesso é difícil, mas vários fatores podem ter contribuído, como ter uma base de fãs bem estabelecida e ter espaço em diferentes nichos, sendo uma cantora ouvida por crianças e adultos. Colocando os gostos de lado, o feito de Taylor é realmente impressionante e reacendeu o mercado fonográfico americano, que é ainda o mais importante e influente do mundo, e dá a esperança de que o mercado de músicas não se encerre por falta de venda.

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